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O Monastério

O ano era de 1432, já era noite quando o sino do portão do monastério tocou. Frei Romeu correu para ver quem era segurando somente uma tocha na mão. Ele era o responsável pelo portão e segurança do monastério, pois havia muitos ladrões nas vilas vizinhas roubando o pouco que eles produziam.

“Quem é você?” – perguntou Romeu.

“Meu nome é Joel, estou viajando e preciso de um abrigo. Tem uma tempestade vindo do norte posso me ferir se eu ficar exposto.”

Frei Romeu olhou para o céu e viu nuvens carregadas se aproximando do monastério. Abriu o portão e deixou o homem entrar. Era obrigação da igreja dar abrigo para as pessoas que necessitavam.

“Para onde está indo Joel?”

“No momento para nenhum lugar e para todos ao mesmo tempo.”

“Bem estranha sua resposta, mas tudo bem. Você vai ficar no celeiro com os cavalos, não é permitida a entrada de forasteiros no alojamento. Se quiser pode assistir a missa e comer na cozinha”


“Não tem problema, até gosto de animais e prefiro ficar por aqui mesmo, tenho minha própria comida não se preocupe.”


Os dois escutaram o sino do portão e olharam em sua direção.

“Deve ser mais gente querendo abrigo.” – disse Romeu.

“Vou me recolher e dormir, pois estou muito cansado, nos vemos amanhã. Obrigado pela ajuda.” – respondeu o visitante.

Frei Romeu correu para o portão e abriu a pequena janela, lá fora um homem muito feio com roupa de frade montado em cavalo negro esperava ser atendido.

“Sou Frei Hermes, fui transferido para este monastério pela nossa congregação” – disse o homem estendendo a mão com um pergaminho enrolado.

A porta foi aberta imediatamente e o novo morador entrou.

“Seja bem vindo irmão Hermes, eu levarei seu cavalo para o estábulo e você pode entrar no mosteiro, pergunte pelo irmão Mark ele vai te orientar e mostrar seu quarto.”

O estranho foi para a entrada do monastério e Frei Romeu foi colocar o cavalo nos estábulos. Entrou de vagar para não acordar Joel, pois sabia que ele estava muito cansado e não queria incomodar, mas o cavalo deu um pulo para trás e relinchou alto. Romeu tentou controlar o cavalo de todas maneiras mas não pôde.

“De onde veio esse cavalo? – perguntou Joel gritando.”

O cavalo saltou e derrubou Frei Romeu com as patas da frente e correu assustado para a escuridão da noite.

“De onde veio esse cavalo?” – questionou Joel sacudindo o frade.

“É de um frade que acaba de chegar. O que esta acontecendo?”

“Onde esta ele?”

“Não sei, deve estar na sala de jantar com os outros frades, pois já estão comendo. Por que você esta agindo assim?”

“Guie-me até lá, com sorte seus companheiros ainda estarão vivos.”

Joel abriu sua sacola e pegou um punhal de prata e um crucifixo de madeira e os dois correram para o prédio. Quando se aproximaram um pouco puderam ouvir gritos, gemidos e grunhidos animalescos. Romeu estava pálido, não sabia o que fazer e estava com medo. O que poderia estar causando tal confusão?

Joel abriu a porta da sala de jantar com um chute, o que mais temia tinha acontecido. Frei Romeu olhou com terror aquela cena. A sala estava cheia de sangue, corpos mutilados estavam em cima das mesas onde os frades comiam. O frei recém chegado havia se transformado, no lugar dos pés havia cascos, suas mãos agora eram garras, a pele se transformou em couro e os olhos estavam grandes e vermelhos.

A criatura olhou para Joel e gritou com ódio.

“Surpresa.” – disse Joel com um sorriso sínico para o demônio.

“Joel, veio se juntar ao meu jantar?”

“Não, vim acabar de vez com sua maldade. Você foi realmente inocente de ter mordido a minha isca. Seu chefe ficará desapontado quando souber da sua derrota.”

Os dois saltaram um em cima do outro e começaram a lutar. O demônio arremessava Joel nas paredes mas ele agüentava tudo com uma resistência sobre humana. Os frades que ainda estavam vivos observavam tudo com terror, se agarravam as suas cruzes e rezavam. Notaram que Joel tentava acertar a criatura com o punhal ou o crucifixo, mas o demônio era muito ágil. A luta continuou e a sala estava cada vez mais destruída e o demônio parecia estar ganhando a batalha.

Joel deixou o crucifixo cair no chão e o demônio riu. Agora com uma das mãos ele tentava segurar as garras que apertavam seu pescoço contra a parede. Frei Romeu olhou para os olhos de Joel que lhe pediam ajuda e correu em direção aos dois. Os outros frades tentaram segurá-lo, mas ele se recusou a ficar de braços cruzado então foi ao encontro dos dois, pegou o crucifixo do chão e o apertou com toda sua força contra as costas do demônio. Os símbolos cravejados no crucifixo iluminaram-se e o crucifixo começou a ser enterrado no corpo da criatura que a esse ponto havia soltado Joel e gritava rolando pelo chão tentando arrancar o objeto das costas.

“Ajudem-me a segura-lo com a barriga para cima” – gritou Joel.

Os frades saltaram em cima do monstro que já estava fraco e o seguram. Joel enfiou o punhal no estomago da besta que urrou de dor e tentou se revirar, mas os frades o mantinha deitado.

“Ele vai morrer?” – perguntou Romeu.

“Não precisamos levá-lo para o calabouço subterrâneo e prende-lo lá.”

“Mas ele é muito forte, vai romper as corretes.” – indagou um dos frades.

“Que calabouço é esse? Eu moro aqui há anos e nunca ouvi falar disso” – questionou Romeu.

“Somente alto clero o conhece, são secretos e usados para a inquisição. E ele não vai romper nada, o crucifixo e o punhal ficarão dentro para que não tenha força, funcionam como um tipo de prisão.”

Eles levaram o demônio para o calabouço e prenderam em uma mesa de tortura usada durante inquisição. Romeu olhou com terror ao ver esqueletos de humanos por toda parte e imaginou o sofrimento das pessoas presas naquele lugar.

“É o seu dever guardar esse demônio para ter certeza que ele não fuja, ele é imortal e somente está adormecido por que o punhal e a cruz o enfraquecem.” – disse Joel subindo as escadas.

“Quem é você?” – perguntou Romeu.

Ele não respondeu, todos foram atrás de Joel, mas ele já tinha desaparecido. Por centenas de anos os frades daquele monastério têm cuidado do demônio que continua adormecido no calabouço, mas seu espírito tenta dominar a mente dos frades para que o libertem e finalmente possa mais uma vez voltar ao exército do diabo.

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